sábado, 2 de maio de 2009

Manua lII- Lidar com quem nos devia ajudar

O fórum da apf às vezes dá o mote para o texto. Hoje alguém se queixava da conversa da médica de família. Pode ser devastador, ouvir de quem devia estar ao nosso lado a apoiar, grandes bacoradas quem não passam da reprodução dos lugares comuns que ouvimos na rua.

Por força das circunstâncias o médico de família devia ser das pessoas que melhor nos conhece. Deveria saber a nossa história clínica completa, todos os exames que fazemos, todos os medicamentos que tomamos, etc. Dada a quantidade de doentes que tem que acompanhar, não tem a obrigação de conhecer profundamente todas as doenças, para isso tem os colegas das especialidades. Não tem obrigação de conhecer a fundo as soluções para o problema mas (e existe sempre um mas) deveria ter necessidade de conhecer o contexto em que ocorre a infertilidade. Segundo as estatísticas 1/6 ou 1/8 dos casais pode sofrer de infertilidade, ou seja 1/6 a 1/8 dos seus pacientes entre os 25 e os 40 anos terão este problema. Dos seus doentes desta faixa etária, sem filhos, terão mais problemas de infertilidade do que doenças cardíacas, diabetes etc...

O que fazer quando o médico não tem consciência disso? E quando dispara "o melhor é relaxar" quando não pensarem nisso é quando vai acontecer? acho que uma boa resposta seria, "acha que devemos sustituir o gonal pelo xanax?", ou em alternativa "também já me tinham dito isso, mas conhece algum psiquiatra especialista em infertilidade?".

Quando a coisa ultrapassa a decência e avança para as questões da adopção, podemos sempre questionar se "engravidar do 2.º filho é mais fácil?", ou sendo acertivo, e sem ironia responder: "acho a adopção um projecto de parentalidade muito interessante, mas nesta fase queria um filho biológico", ou simplesmente "também há muitos casais que se realizam e são felizes sem filhos!".

O probelma maior e que nos deixa sem palavras é a médica especialista em infertilidade, ao fim de alguns anos de tentativas, depois de analisar o processo, e com os últimos exames na mão disparar "No vosso caso o ideal era engravidarem naturalmente!"

Notícia do Público Infertilidade afecta cerca de 290 mil casais no país

Bem haja por alguém se lembrar que o dia da mãe também pode ser um dia de comemorar a esperança.